sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


A obsessão pelo melhor

Estamos obcecados pelo "melhor".
Não sei quando foi que começou esta mania, mas hoje só queremos saber do "melhor". Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho. O que nos é conveniente não basta. 
O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor".
Isto até que outro "melhor" apareça, e é uma questão de dias ou de horas para isto acontecer.
Novas marcas surgem a todo instante. E novos produtos da mesma marca são mudados a todo instante. Vem o um , depois o dois e assim por diante.
Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado,modesto, aquém do que podemos ter. É uma questão de status , de poder, de mostrar aos outros. Num mundo onde o que parece ser é mais importante do que se é verdadeiramente.
O problema é que querer só o "melhor" faz com que passemos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego.
Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter. E o que é este "melhor"afinal?

Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos.

Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.
Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis. 
Não que devamos nos acomodar ou nos contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente.

Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de stress porque é o melhor cargo da empresa?
E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu quarto?
O restaurante que nem tem a melhor comida mas é o mais caro e badalado? 
Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro?
O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor" cabeleireiro?
Tenho pensado no quanto esta busca permanente do melhor tem nos deixados ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.
A TV que está velha, mas nunca deu defeito
 O parceiro (a) que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os ditos"perfeitos".
As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai nos dar a chance de estar perto de quem amamos...
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que nos constituem.
O corpo que já não é tão maleável, mas está vivo e sente prazer. 
Será que  precisamos mesmo de mais do que isto?
Ou será que isto já é o melhor e na busca do "melhor" nós nos perdemos?

Sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos 
Shakespeare